HISTÓRIA

O início do hóquei em Sertãozinho
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   Haroldo Pérsio Requena

   Nasceu em 21/01/1953

   Faleceu em 01/10/1982

          No final da década de 70, a cidade de Sertãozinho teve sua história alterada, devido a um dilema que atormentava a vida do paulistano Haroldo Pérsio Requena. Na época, Haroldo era jogador do time de hóquei do Palmeiras (SP), clube pelo qual, em 1978 havia conquistado o Campeonato Brasileiro de Clubes e da Seleção Brasileira, pela qual havia conquistado recentemente a honrosa medalha de prata nos jogos Pan-americanos de Porto Rico em 1979, mas morava em Ribeirão  Preto,  por  conta dentre outras coisas, do Conjunto Musical Memorial 5, tradicional banda da região, em que era tecladista e vocalista da mesma. Para cumprir todo o seu itinerário (treinos, jogos, e apresentações musicais), ele era obrigado a trafegar por estradas infinitamente inferiores em relação as atuais, quase todos os dias da semana, o que foi ficando impraticável com o passar do tempo e, consequentemente, o obrigava a tomar uma decisão sobre seu futuro. Só que Haroldo postergava esta decisão de modo a não ter que escolher uma entre as suas duas paixões. Na realidade não havia o que escolher, na medida em que não existiam equipes de hóquei nas proximidades de Ribeirão Preto, o que o forçava, se quisesse continuar jogando, a voltar para a cidade de São Paulo. Por outro lado, abandonar seus companheiros de conjunto e sua namorada igualmente estava fora de cogitação. Contaminado por essas questões, Haroldo teve a ideia que mudaria para sempre o seu destino  e  o  da  cidade  de Sertãozinho, que parece ter sido extraída da passagem bíblica “se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé”. Assim, começou a se questionar sobre a possibilidade de se montar um time de hóquei na região. Para as negociações, Haroldo contou com seu companheiro de conjunto e na época, Advogado da Prefeitura Municipal de Sertãozinho, Dr. Gerson de Moura Jr. Este, frequentador assíduo dos jogos do amigo e conhecedor de suas qualidades como jogador, percebeu que a proposta não era de todo infundada e colocou-o frente ao Prefeito da época Dr. Waldir Alceu Trigo, para discuti-la. Foi o modo mais simples encontrado por eles para tentar implantar um esporte desconhecido numa pequena cidade do interior, pois, com o aval da Prefeitura, os investimentos de empresas privadas não demorariam a aparecer. Esta estratégia acabou dando certo, contagiando o Prefeito e também o Presidente da Comissão Municipal de Esportes da Prefeitura, José Aprígio Baptista de Oliveira. Ambos perceberam o potencial da proposta que, se desse certo, poderia projetar nacionalmente a pequena cidade do interior paulista, cuja produção de cana-de-açúcar e derivados era a principal fonte de divulgação (é difícil de acreditar que naquele momento, qualquer um deles tenha cogitado a possibilidade do hóquei sertanezino ultrapassar fronteiras nacionais, projetando mundialmente a cidade como acabou acontecendo).

          A única contrapartida do Prefeito foi que o investimento fosse todo voltado para a geração de um time verdadeiramente competitivo, que não precisasse amargar a obscuridade por muito tempo. Para isso, a prioridade número um foi a contratação de atletas de destaque no cenário hoquístico nacional, que, obviamente, ficou a cargo de Haroldo, que além de atuar pelo Palmeiras e pela Seleção Brasileira, já havia passado pelas equipes da Portuguesa (SP) e Regatas Santista (SP), além da Seleção Paulista. No entanto, como convencer alguns atletas de renome a migrarem para uma cidade praticamente desconhecida, distante dos grandes centros urbanos e que o nome não inspirava muita confiança, isto fica patente nas palavras de Vitor Santos, um dos cinco jogadores contratados pelo Sertãozinho Hóquei Clube. “Eu me lembro quando o Haroldo, seu irmão o Teco, o Gerson e o Zé Aprígio, conversaram comigo pela primeira vez, num torneio da Portuguesa no começo de 1979, em que eu jogava contra os dois irmãos. como nunca tinha ouvido falar de Sertãozinho, imaginei, pelo nome, que seria igual àqueles sertões: uma cidade bem pequena, com uma rua principal asfaltada e o resto de terra, mas para minha surpresa e felicidade, quando aqui cheguei, encontrei uma cidade completamente diferente daquela que eu imaginava, me apaixonando por ela desde a primeira vez”.

          A solução encontrada foi contratar todos como funcionários públicos da Prefeitura Municipal, para trabalhar, entre outras coisas, formando as escolinhas de base do Sertãozinho Hóquei Clube. Por sua vez a PM ficaria encarregada de bancar todas as despesas do time (inscrições, fichas e mensalidades da Federação Paulista, despesas de viagens, taxas de arbitragem, materiais esportivos, etc.). O primeiro atleta contratado foi naturalmente seu irmão Antonio Dorian Requena, mais conhecido como Teco, que, na época, era defesa do Palmeiras e capitão da Seleção Brasileira.

         Um jogador muito calculista e experiente, que já havia participado dos Mundiais de 1970, 1974 e 1976. O outro contratado para impedir os gols dos adversários foi José Manuel Rodrigues da Silva, mais conhecido como Mané, nascido na Ilha da Madeira (Portugal), e, na época jogador do Clube de Regatas Internacional da cidade de Santos, time que acabava de conquistar o Tetra campeonato  paulista  de 76 a 79, que seria o primeiro grande rival do Sertãozinho Hóquei Clube, era dono de um chute fortíssimo e também havia passado pela seleção, onde formou com Haroldo uma das maiores duplas de ataque no Regatas Santista e na Seleção. O goleiro contratado foi o paulistano Paulo Peres, o nosso querido Xixa, como era conhecido por todos no mundo do hóquei, também jogador do Internacional de Santos. Foi um dos atletas mais premiados na história do hóquei brasileiro. Atuou nos times da Portuguesa (SP), e do Regatas Santista (SP).

         Neste time chegaram a jogar juntos:  Xixa,  Teco,  Mané,  Haroldo, Terroso e Bacalhau, uma verdadeira seleção de craques e por isso venceram os dois primeiros campeonatos brasileiros 72/74 e os Campeonatos Paulistas de 71/73/74/75, portando já se conheciam muito bem, e atuou nas seleções: Paulista, Brasileira e do resto do mundo, sendo considerado por inúmeras vezes, o melhor goleiro do Brasil. Fechando o time, os atacantes Haroldo e o já citado Vitor Santos, assim como o Mané, era português. Nascido em Lisboa, Vitor jogou em Moçambique (África), na época colônia portuguesa. Veio para o Brasil em 1975 jogou pela Portuguesa (SP) até vir para Sertãozinho onde se naturalizou brasileiro em 1982 para poder jogar na seleção nacional e se tornar o maior artilheiro da história do clube. Atendendo à expectativa na Prefeitura Municipal, a base do time foi toda formada por grandes jogadores da seleção brasileira, tornando-se posteriormente um dos maiores times de hóquei do Brasil e do Mundo.

Texto de: Fabiano Rangel Pusas

Vitor Manuel Nogueira Santos.jpg

Vitor Santos

José Manuel Rodrigues da Silva - Mané.png

Mané

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Xixa

Teco